Por: Sérgio Renato – Em: 19/01/2024

Em 2022, publicamos aqui uma lista que trazia alguns álbuns gravados ao vivo que podem ser apontados entre os mais importantes já lançados, por consolidarem e consagrarem o formato como o preferido de muitos. Só que percebemos também que havia ausências imperdoáveis entre os 13 discos destacados e, por isso, fomos obrigados a ampliar a lista chegando a um total de 20 trabalhos. Todos são de uma época em que só os as grandes apresentações viravam disco e exigiam uma bagagem prévia, diferente de hoje quando qualquer iniciante já surge com um ‘DVD ao vivo’ sem nem mesmo ter uma carreira consolidada. Levamos em conta aqui a relevância de cada um, principalmente pelo momento que representaram para seus autores e para o pop mundial e, claro, muito também pelo peso do repertório que traziam, sendo que alguns ficaram para a história. Como já falamos exclusivamente sobre ‘Paris’, do Supertramp (https://canalunderground.wordpress.com/2019/11/29/bon-soir-paris/ ), este disco não aparece aqui, mas se faltou algum nos lembre nos comentários e nas redes sociais. Então, ladies and gentlemen, com vocês…

Live at Leeds – The Who (1970) – A gravação foi feita no Dia dos Namorados no hemisfério norte do mesmo ano, no campus da famosa universidade britânica, quando a banda já tinha tocado até no festival de Woodstock meses antes. Considerado por muitos o primeiro grande disco ao vivo daquela década, o álbum original tinha somente seis faixas que incluíam uma longa versão de “My Generation”, com quase 15 minutos. Nos anos seguintes, saíram as chamadas edições ‘de luxe’ com mais faixas, uma delas trazia até com a reprodução do álbum/ ópera-rock ‘Tommy’, que a banda promovia na turnê.

At Fillmore East – The Allman Brothers Band (1971) – A célebre banda de blues criada em Macon, na Georgia, pelos irmãos Gregg e Duane Allman tinha apenas dois discos de estúdio gravados quando se apresentou na última noite em que funcionou a lendária casa de shows de Nova York – consta que o show, realizado em março daquele ano, durou até o dia amanhecer porque nem banda nem público queriam ir embora! Com muito improviso no palco e longas versões de seus hits até ali, como a clássica “Statesboro Blues” já na abertura, foi o último disco com a participação de Duane Allman, que morreu em outubro num acidente de moto, pouco antes de completar 25 anos.

Made in Japan – Deep Purple (1972) – Aqui temos uma das bandas precursoras do heavy metal em estado de graça e num disco citado de forma recorrente do forte influência no gênero (é um dos preferidos por exemplo de Lars Ulrich, baterista do Metallica). Parte da turnê do clássico álbum ‘Machine Head’ (lançado no mesmo ano) teve shows gravados em agosto em Tóquio e Osaka e, no disco, o destaque é uma versão de “Space Truckin’” com quase 20 minutos de duração (tem um trecho que lembra até “Tom Sawyer”, do Rush, quase uma década antes desta vir ao mundo). Também estão lá ótimas performances para as recém-lançadas “Highway Star” e “Smoke on The Water”, além de “Lazy”, “The Mule”, Child in Time” e “Strange Kind of Woman”.

Alive – Kiss (1975) – Não havia ainda muita certeza sobre o futuro da hoje eterna banda de Paul Stanley e Gene Simmons quando eles resolveram lançar os shows gravados em quatro cidades americanas, durante a tour do álbum ‘Dressed to Kill’. O lançamento foi um divisor de águas não apenas para eles, que até ali só haviam emplacado um único hit, “Rock and Roll All Nite” – junto com Ace Frehley (guitarra) e Peter Criss (bateria) –, mas também para o mercado fonográfico. Isso porque até então álbuns ao vivo eram vistos como de média para baixa vendagem, e este vendeu 500 mil cópias só na primeira semana nos EUA, chegando a 22 milhões no mundo todo. A já conhecida energia do grupo no palco foi bem transposta para o vinil e começou a tornar o Kiss uma das grandes bandas da história.

Frampton Comes Alive – Peter Frampton (1976) – Se o álbum do Kiss mudou o olhar do mercado para os discos ao vivo, este do ex-guitarrista do Humble Pie foi um verdadeiro marco no setor. Apontado como o mais vendido do tipo em todos os tempos (fico devendo a quantidade), era o disco que todo mundo que curtia rock tinha em casa do meio pro fim da década, tornando comum encontrar sua capa em qualquer lugar. No repertório, versões consideradas definitivas para hits como “Show Me The Way” e “Baby I Love Your Way”. Depois dele, vários artistas sacaram que valia apenas gravar uma apresentação mais caprichada e lançar em disco.

The Song Remains The Same – Led Zeppelin (1976) – Este é um caso bastante curioso: A banda ‘inventora do heavy metal’ não vivia em bom momento naquele ano e seu recém-lançado álbum ‘Presence’ não vendia tão bem. Ao mesmo tempo, estava saindo o filme também chamado ‘The Song…’ (no Brasil teve o nome de ‘Rock é Rock Mesmo’) mostrando o quarteto inglês em shows de 1973 no Madison Square Garden, em Nova York, juntamente com imagens dos membros como personagens míticos ou na vida pessoal. Claro que era preciso uma trilha sonora e, assim, a banda teve seu único ao vivo lançado quando em atividade. Na lista havia longas versões para hits consagrados como “Stairway to Heaven”, “No Quarter”, “Whole Lotta Love” e “Dazed and Confused” (esta com quase meia hora de duração).

Doces Bárbaros – Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa (1976) – A onda dos ‘ao vivo’ nos anos 1970 também chegou em nossa área, ainda que mais discretamente. O mais conhecido foi este gravado durante a turnê conjunta dos quatro baianos, idealizada por Bethânia. A novidade foi um repertório com canções feitas especialmente para os shows, mas que viraram clássicos ao longo dos anos, como “Esotérico”, “O Seu Amor” (de Gil), “Um índio” e a festiva “São João, Xangô Menino” (de Caetano) , além de boas covers de “Fé Cega, Faca Amolada” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) e “Atiraste Uma Pedra” (Herivelto Martins e David Nasser), entre outras. O show foi gravado em São Paulo no dia 24 de junho, mas há também um documentário dirigido por Jom Tob Azulay que mostra parte da turnê e os bastidores com seu clima hippie e libertário em plena ditadura militar, incluindo o episódio da prisão de Gil em Florianópolis por porte de maconha. Destaque também para a banda de apoio que incluía feras como Arnaldo Brandão (baixo), Mauro Senise (sopros) e Tomás Improta (teclados).

Live Killers – Queen (1979) – A primeira vez que este escriba ouviu uma gravação ao vivo que chamou a atenção foi com o single promocional deste álbum, isso com apenas 8 anos de idade. Era interessante ouvir uma galera cantando uma versão ao violão (o original era ao piano) de “Love of My Life”, que se tornou um clássico instantâneo. Além deste, a gravação trazia outros grandes hits da banda de Freddie Mercury e companhia até ali, como “Bohemian Rapsody” (sem a parte da opereta) “Killer Queen”, “Bycicle Race”, “Don’t Stop Me Now” e as já inevitáveis “We Will Rock You” (essa em duas versões) e “We Are the Champions”. A banda lançou ainda ‘Live Magic’ (1986) e ‘Live at Wembley ‘86’, que foi gravado na mesma turnê mas só saiu em 1992.

Exit…Stage Left – Rush (1981) – Quem ouve rock and roll de uns anos para cá talvez não consiga imaginar uma época em que a hoje clássica “Tom Sawyer” fosse uma música nova sendo apresentada, certo? Pois esse período existiu e está registrado neste segundo disco ao vivo do Rush – que já havia lançado ‘All The World’s a Stage’ em 1976. Este aqui foi gravado no Canadá e na Inglaterra durante a tour do mítico álbum ‘Moving Pictures’, que tinha saído no mesmo ano e forneceu ainda “Red Barchetta” e a instrumental “YYZ”. Com o trio em seu melhor momento no geral, o repertório tinha ainda “Xanadu”, “Closer to the Heart”, “The Trees”, “Free Will”, “The Spirit of Radio” e “La Villa Strangiato”, também instrumental. A banda teve outros ‘live albuns’ ao longo da carreira, com destaque para ‘A Show of Hands’ (1989), ‘Different Stages’ (1998) e ‘Rush in Rio’ (2003), este gravado no célebre show do Maracanã, em novembro de 2002 (#EuFui).

The Concert in Central Park – Simon & Garfunkel (1982) – Era só para ser um show beneficente em prol da manutenção da famosa e gigantesca área verde de Nova York, em 19 de setembro de 1981. Mas virou um dos espetáculos musicais mais comentados do início da década de 1980 e, depois, um dos discos ao vivo mais ouvidos daquele período (tanto quanto ‘Paris’, do Supertramp). E não é todo dia que se consegue atrair nada menos que 500 mil pessoas a um único lugar para um ‘concerto’, como se chamava na época. Neste caso, era o retorno da dupla que não se juntava havia mais de dez anos e foi muito popular nos EUA enquanto estava na ativa. No repertório estavam todos os grandes hits como “Mrs. Robinson”, “Bridge Over Troubled Water”, “The Boxer” e “The Sounds of Silence”.

Ao Vivo – Milton Nascimento (1983) – Quando um artista consegue emplacar um grande clássico de sua carreira através de um disco ao vivo, é sinal que esta gravação é no mínimo relevante. Foi o que aconteceu com este álbum do hoje aposentado Milton, que acaba de completar 40 anos de lançamento (saiu em dezembro de 1983). A canção em questão é a então inédita “Coração de Estudante”, cuja letra foi escrita por ele sobre um tema composto por Wagner Tiso para o documentário ‘Jango’, do diretor Silvio Tendler. O sucesso instantâneo caiu como uma luva para o momento político nacional, na época em que a campanha das ‘Diretas Já’ estava a todo vapor nas ruas do país e teve essa música como um de seus hinos. Além dela, o álbum gravado em São Paulo trazia ainda versões para outros sucessos dele como “Para Lennon e McCartney”, “Nos Bailes da Vida”, “Maria Maria” e uma bela cover para “A Noite do Meu Bem”, de Dolores Duran.

Alchemy Live – Dire Straits (1984) – Um disco que, por razões pessoais, merecia um capítulo à parte. Todo mundo que ouve música do meio dos anos 80 para cá com certeza já ouviu, ainda que em alguma cover de bar, a longa versão de “Sultans of Swing”, primeiro sucesso da banda de Mark Knopfler, e seu inconfundível solo de guitarra, presença certa em qualquer festinha da época. Para este escriba, o fascínio foi tamanho que virou quase uma obsessão procurar aquela gravação, fosse no rádio ou através de amigos, e não era fácil: pouca gente tinha o disco em casa e os mais de 10 minutos de duração não permitiam tocar nas FM a qualquer hora. Aí eu ouvi o disco inteiro e a vontade só aumentou, quando percebi o quão especial ele era, e isso era quase uma opinião coletiva naqueles anos. Além de “Sultans…”, havia outras versões alongadas para “Once Upon a Time in the West” e “Tunnel of Love” (“Telegraph Road” já era originalmente longa). Há ainda performances definitivas para “Romeo and Juliet”, “Private Investigations” e a instrumental “Going Home”, que fecha a lista. Além dos solos de Knopfler, se destacam os arranjos do tecladista Alan Clark e as incríveis viradas do baterista Terry Williams, que fazia sua primeira turnê com a banda. O show que gerou o álbum (gravado em Londres, em julho de 1983) também foi lançado em vídeo na época, sendo outro objeto de grande procura – que há poucos anos ganhou uma versão com imagens em full HD e som digital. Posso dizer que foi este álbum que desencadeou toda a curiosidade musical que sempre me moveu…sim, eu devo muito do que sou a ‘Alchemy’, que ouvi inúmeras vezes por semana lá pelos meus 15 anos, não tenho como negar. Da mesma forma, também é inegável que a qualidade do que está ali é algo único e inigualável, e o tempo provou que nem a própria banda conseguiu superá-lo, nem mesmo vendendo horrores como vendeu com seu disco seguinte, ‘Brothers in Arms’ (de 1985).

Live After Death – Iron Maiden (1985) – Com cinco álbuns lançados na metade dos anos 1980, não havia dúvidas de que o Iron Maiden já se tornara um dos pilares do heavy metal mundial, e era hora de registrar o momento. Antes e depois da sua passagem pelo primeiro Rock in Rio, a banda gravou seus shows da turnê do álbum ‘Powerslave’ (de 1984) em Londres e em Long Beach, na Califórnia. O set foi o mesmo visto por aqui na Cidade do Rock com “Aces High”, “The Trooper”, “The Number of The Beast”, “Flight of Icarus”, “Run to the Hills” e outras pedradas. Nos anos seguintes, o grupo (que já tinha lançado ‘Maiden Japan’ em 1981, ainda com Paul Di’Anno nos vocais) lançou mais de uma dezena de discos ao vivo, sendo um deles gravado na terceira edição do próprio Rock in Rio, em 2001, onde viraram atração recorrente.

Rádio Pirata Ao Vivo – RPM (1986) – É sempre importante falar dos ‘dois lados’ que este disco mostrou – até porque os discos ainda tinham dois lados fisicamente naquele tempo, algo que a geração mais nova não conheceu. O lado bom da coisa é que o lançamento abriu as portas para que as tecnologias de gravação digital chegassem com força aos nossos estúdios, trazendo uma qualidade até então inédita por aqui mesmo já na era do CD. O histórico sucesso de vendas foi mais um estímulo para que outros artistas buscassem ter o mesmo som conseguido pela banda paulistana, liderada pelo baixista/‘sex simbol’ carioca Paulo Ricardo. O sucesso deles também serviu para consolidar o rock brasileiro como algo comercialmente viável, num momento em que bandas como Paralamas do Sucesso, Titãs e Legião Urbana viviam seu auge criativo e lançavam seus melhores álbuns. Mas essa mesma vendagem astronômica – foi o primeiro disco brasileiro a atingir e ultrapassar a marca de 2 milhões de cópias – evidenciou o lado ruim. O grupo tinha lançado somente seu disco de estreia (‘Revoluções Por Minuto’, de 1985) com hits como a faixa-título, “Louras Geladas”, “Olhar 43”, “Rádio Pirata” e “A Cruz e A Espada”. A turnê, em que ostentavam itens como feixes de raio laser e até uma tela de computador sobre os teclados de Luiz Schiavon, atraiu multidões pelo país e gerou gravações não-oficiais dos shows, que eram superproduções sob a direção de Ney Matogrosso (membro da última banda nacional a ter vendas milionárias na década anterior, os Secos & Molhados). Foi daí que surgiu a ideia de um álbum ao vivo com um registro oficial trazendo, além dos hits até ali, covers dos próprios Secos & Molhados (“Flores Astrais”) e de Caetano Veloso (“London, London”) e a faixa instrumental “Naja”, já presentes no repertório, além da inédita “Alvorada Voraz”. As gravações rolaram no fim de maio no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, e foram mixadas digitalmente em Los Angeles. A exposição excessiva a reboque do enorme sucesso teve a consequência de sempre: a própria banda não aguentava mais se ver na mídia e rolaram tretas por divisão da grana, o que levou a diferentes separações e reuniões ao longo dos anos seguintes.

Bring On The Night – Sting (1986) – Outro disco especial para este ouvinte por razões também especiais. A primeira delas é que foi o primeiro que adquiri com meu próprio salário, por volta dos 16 anos (emocionante, né?!), mas a principal é que foi através dele que outras portas musicais se escancararam, ao descobrir que o ex-The Police tinha montado uma banda com músicos de jazz, um gênero então um pouco distante para um adolescente médio como eu era. Eram nomes que incluíam o baixista Darryl Jones (que desde 1994 substitui Bill Wymann nos Rolling Stones) e que haviam trabalhado com gente de muito peso do jazz como Miles Davis e Wynton Marsalis (cujo irmão, Brandford Marsalis, cuidava dos sopros na banda). Tocando apenas guitarra base, Sting registrou sua primeira turnê solo na Europa, cujo repertório trazia canções menos conhecidas do Police (“Driven to Tears”, “Demolition Man” e “Tea in The Sahara”, entre outras), ao lado de outras de sua estreia solo (‘The Dream of The Blue Turtles’, de 1985) como “We Work The Black Seam”, “Children’s Crusade”, “Love Is The Seventh Wave” e a belíssima “Moon Over Bourbon Street”. Tudo isso com uma base jazzística forte que despertou, ao menos em mim, a curiosidade por explorar melhor esse mundo desconhecido até ali e todo seu requinte musical. Também devo essa a Sting!

Southern by the Grace of God/Tribute Tour 1987 – Lynyrd Skynyrd (1988) – A banda surgida em Jacksonville, na Flórida, é sinônimo de country rock dos EUA e também protagonizou uma das maiores tragédias de que se tem notícia na história da música mundial. Em 1977, na semana em que lançaram o álbum ‘Street Survivors’ (cuja capa, modificada mais tarde, trazia os membros da banda em meio a chamas), o avião que transportava a banda para um show caiu no Mississipi matando seis pessoas, entre elas o vocalista Ronnie Van Zandt e os irmãos Steve Gaines (guitarrista) e Cassie Gaines (backing vocal). Dez anos depois, os sobreviventes resolveram se reunir para uma turnê-tributo aos integrantes falecidos, com vocais do Johnny Van Zandt, irmão caçula do antigo cantor. Os shows foram um grande sucesso naquela temporada e as passagens por Nashville, Atlanta e Dallas foram gravadas para virar este álbum – com o nome e a capa com a bandeira dos estados confederados do sul (o lado escravista da guerra civil americana) causando polêmica. No repertório estão clássicos da banda como “That Smell”, “What’s Your Name”, “Gimme Back My Bullets” (esta com guitarra de Steve Morse, hoje no Deep Purple), “Working For MCA” e “Sweet Home Alabama”. O grande momento, porém, surge na última faixa com uma emocionante versão do hino “Free Bird” cantada somente pela plateia, de arrepiar. Desde então, o LS retornou à ativa e segue na estrada até hoje, tendo tocado até na última edição do tradicional rodeio de Jaguariúna, no interior de São Paulo.

Delicate Sound of Thunder – Pink Floyd (1988) – No mesmo ano em que os Engenheiros do Hawaii contestaram “Pink Floyd sem Roger Waters” (na faixa “Tribos e Tribunais”) – falando retorno da banda em 1987 –, os outros três membros seguiam com a grande turnê mundial que marcava a ocasião. O espetáculo de luzes, efeitos, telões, lasers e pirotecnia impressionava o público e tinha quase sempre lotação esgotada por onde passasse. A banda, que só tinha gravado ao vivo metade do ‘Ummagumma’ (de 1969), resolveu registrar uma das apresentações e escolheu a de Nova York, em agosto. O disco duplo, com a qualidade sonora padrão do Pink Floyd, mostrava metade com canções inéditas e a outra com grandes clássicos como “Shine On You Crazy Diamond”, “Time”, “Money”, “Another Brick in The Wall (part 2)”, “Wish You Were Here” e “Comfortably Numb”. O álbum lançado em novembro virou um cartão de visitas para uma nova geração de fãs da banda.

O Tempo Não Para – Cazuza (1989) – Se já tinha sido um choque grande ouvir Cazuza, que ainda tinha aquela imagem de ‘bon vivant’ da Zona Sul do Rio, cantando versos como “as ilusões estão todas perdidas, os meus sonhos foram todos vendidos…”, tente mensurar a porrada no estômago de que veio com “te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”. Era a consolidação de uma mudança de postura radical do cantor e compositor, agora um crítico ferrenho da elite da qual ele é oriundo. Claro que esse posicionamento, já demonstrado no antológico álbum ‘Ideologia’ (de 1988), teve a ver com sua condição de soropositivo (foi o primeiro artista brasileiro a assumir e lutar publicamente contra a AIDS) e a tour nacional do disco, que parecia uma despedida, foi vista por um grande público em todo o país e precisavam ser perpetuada. Os shows gravados em outubro daquele ano no Canecão, em Botafogo (na Zona Sul do Rio, claro), geraram o disco lançado em janeiro. Além da faixa-título com os fortes versos acima, estavam lá também “Vida Louca Vida” (de Lobão e Bernardo Vilhena), “Codinome Beija-Flor”, “Exagerado”, “Toda Amor Que Houver Nessa Vida”, “Faz Parte do Meu Show” e outras em versões emocionadas.

Serious Hits…Live! – Phil Collins (1990) – A recente despedida do Genesis e, por conseguinte, de seu vocalista, causou espanto não apenas pelo fim da banda mas também pela condição de extrema debilidade em que o cantor e ‘multi-homem’ musical se encontrava no palco. Apenas sentado e com voz em tom baixo, Phil Collins não lembrava em nada aquele cara elétrico que cantava e tocava bateria e teclados (veja em https://canalunderground.wordpress.com/2021/01/31/phil-collins-o-arroz-de-festa-completa-70-anos/ ). Imediatamente, muita gente passou a lembrar de suas performances de outrora, como a que gerou este disco na turnê do álbum ‘But Seriously…” (de 1989). No registro – o famoso ‘disco do carrossel’, sempre de fundo musical nos eventos mais caretas da época –, estão quase todos os seus grandes sucessos que não saíam das rádios FM ao longo da década de 1980 (“In The Air Tonight”, “Against All Odds”, “Sussudio”, ‘One More Night”, “Another Day In Paradise” e por aí vai), e junto com ele ainda veio o home vídeo com o show em Berlin, que era a cidade da moda na período com a então recente reunificação da Alemanha.

MTV Unplugged – Eric Clapton (1992) – Pode-se dizer com tranquilidade que este álbum do outrora ‘deus da guitarra’ reinventou o disco ao vivo nos anos 1990. Com certeza Clapton não imaginava o monstro que estava criando quando lançou este ‘acústico’ – uma ideia da MTV americana que logo virou uma mania/praga no mundo todo gerando outros discos. Era só mais um programa da série e, antes dele, Mariah Carey tinha lançado o seu também em disco, mas nada se comparou ou sucesso deste, pelo qual ele levou seis prêmios Grammy. Mas o momento de Eric não era bom na época da gravação: Depois de perder o amigo Stevie Ray Vaughan num acidente de helicóptero saindo de um show seu, ele ainda passou pela trágica perda do filho Conor, de apenas 4 anos, ao cair do 53º andar de um prédio em Nova York. Ele transformou o luto em música, e a faixa “Tears in Heaven” foi um sucesso imediato. Além dela, o álbum trazia blues históricos de Bo Diddley (“Before You Accuse Me”), Muddy Waters (“Rollin’ and Thumblin’), Big Bill Broonzy (“Hey Hey”) e Robert Johnson (“Malted Milk”), juntamente com hits recentes dele. É nesse disco também que está a primeira gravação ao vivo da clássica “Layla”, da época de Derek and The Dominos, mais de vinte anos depois de seu lançamento e que Clapton não havia registrado em seus cinco ‘ao vivo’ anteriores.